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domingo, 25 de maio de 2014

Vômitos de outrora.

Textos do antigo blog (clique para abrir):

1 - O Situar que não situa ;

2 - Saudade que se come fria ;

3 - A Paixão Segundo/Seguindo a mim ;

4 - A Sexualidade das Coisas ;

5 - Fogo que arde sem se ter ;

6 -  A volta... Doce volta ;

7 - Problemas ;

8 - Das tripas coração ;

9 - Passeios, Passados e Passarinhos ;

10 - Sentido. ;

11 - Contando ;

12 - Corrosão ;

13 - Sexualidade e Anjos sem Asas ;

14 - Garfinho Egoísta ;

15 - Vela Acesa e Pimenta Seca ;

16 - Vida vai; passarinho ;

17 - Amor ;

18 - Fumacinha e dedos suculentos.


Refrãos dos outros, versões de mim.

Dizem... Dizem por aí que tudo na vida passa. [...] Será mesmo? Tudo?

As pessoas passam? Os momentos passam? Os sentimentos passam?

Passam. Mas a intensidade com a qual passam é diretamente proporcional à influência que nos acometem.

Perco-me na tentativa de quantificar a imensidão de pessoas, momentos e sentimentos que já passaram, ferozmente, dolorosamente, profundamente e intermitentemente por mim; cada qual com sua própria imensidão, feracidade, dor, profundidade e intermitência.

1- Perdendo-se nos outros:

Ah! Os outros... Como é bom se perder neles. Esquecer da própria profundidade e mergulhar na do outro.  Enxergar a tão sonhada luz no olhar de outrem ao invés de encontrá-la em si mesmo - no escuro.
Comiserar-se pelo valor não recebido, pelo olhar não retribuído, pelo abraço fraco, pelo vazio do não dito - que nos contorce e embrulha.

Tantos vem, inúmeros se vão... Como dói. Dói sim, não se engane. Machuca, macula, deixa rastros.

Como deixar ir aqueles que tão intensamente nos marcaram e que ao mínimo sinal de lembrança ensejavam aquela pontada aguda e crônica no estômago (o cerne, psicossomaticamente, lembrando da falta do outro), aquele comichão, aquele aperto no que chamamos de coração?

Simplesmente os deixamos ir, os 'pedimos' para ir, ou deixamos que a vida os leve. Lutar para que fiquem? Não, é muito complicado... É muito cansativo.

Sandice! É preguiça. É o medo do insucesso. É a expectativa de que nossa tese sobre o que os outros representam, se tornem a nossa própria síntese - corrompida.

Deveríamos nos agraciar na medida que agraciamos. Deveríamos nos buscar na medida que buscamos. Deveríamos nos deixar ir... Ir com os outros, apesar dos outros (não para os outros).

(Já começou a doer? Eu disse!)

2 - Perdendo-se nos momentos:

Os momentos, lembre-se, foram feitos para durar pouco... Sim, momentâneos, simples, efêmeros, herméticos. Mas, ainda sim, nos perdemos neles. Queremos que eles voltem, não queremos que eles se acabem, entretanto, deixamos os outros irem.

Alguns momentos servem para nos acalentar quando o outro não está perto ou já se foi. Há ocasiões em que preferimos esses do que estes, porquanto costumamos perder nosso calor, nossa efervescência, mas o momento não, ele é, será, e está eterno, estável, pragmático, desconcertante, estático, incomunicável. 

Momentos podem ser deverás mais interessantes do que os outros, e nesses nos perdemos, mais do que nos perdemos nos outros. Eles vão, mas os momentos ficam - marcando e marcando.

Na busca para eternizar e replicar momentos (não tente), esquecemos de eternizar aqueles à nossa volta; de replicar suas versões nas nossas,  numa simbiose imperfeita, lascívia, e amoral.

3 - Perdendo-se nos sentimentos:

Sentimentos... Sentimentos... Sentimentos. Tantos, mas tão poucos. Quero mais... Mais serenos, implacáveis,  intocáveis, frustrantes, frívolos, remidos, pujantes, atrozes, reminiscentes....

Sentir o momento (com o outro).

Queremos apenas sentir de verdade ou fazer com que os outros sintam o que não conseguimos ou queremos? Circundados de variáveis, nos perdemos, sem saber o quão profundo podemos/queremos/devemos ir. Profundo em quem? Profundo aonde (e onde)?

- Eu quero que você sinta - Disse o desconcerto ao ego alheio.
- Eu sinto no meu sentido. Sinta no seu! - Respondeu o ego. E sentaram-se, em sentidos opostos, sentindo a impugnação de um com o outro.

 Sentimento nada mais é que a emoção, a percepção, a sensação e a memória agindo juntas, mescladas e latentes para que se forme isso que chamamos de sentir. Todas elas fazem parte de nossas funções superiores (superiores a nós).

Portanto sinta, sinta abruptamente, profusamente, inquietantemente, e se permita perder-se nos outros, saciando sua própria profundidade abundante de outros perdidos.

Fim (momentâneo).

O Enigma Infinito - Salvador Dalí.